Eu coleciono papéis em branco. Não porque eu goste de ter um milhão de folhas em branco dentro de uma caixa ou porque tenho alguma utilidade para elas; eu coleciono pelo simples motivo de que não consigo jogar fora.
Já peguei a caixa e remexi várias vezes. Já tentei me desfazer dos cadernos velhos com meia dúzia de folhas limpas, mas não consigo. Eu poderia usá-los para rascunhar textos (e uso), para fazer origami (já fiz), artesanato (é mais a praia da minha mãe). Mesmo assim, eles vão se acumulando como que em progressão geométrica.
Podem me julgar, eu não ligo, até porque eu mesma me julgo: que espécie de pessoa acumula papel em branco por dó de gastar árvore? Eu mesma, a geminiana louca que tem crises de identidade anuais e tempestades de choro silenciosas.
Cristo!
Eu poderia usar minha coleção de papel como uma metáfora para as pessoas que eu mantenho em minha memória só porque não consigo jogar fora mesmo tendo a completa certeza de que elas são tão sem conteúdo quanto os papéis.
Ao mesmo tempo, elas não estão em branco, não tenho como transformá-las em uma escultura de dobradura, obra de arte com carvão e muito menos é possível depositar minhas ideias loucas dentro delas.
Mas deixa essa história para outro texto, não estou nem um pouco a fim de discutir comigo mesma sobre os meus fantasmas. Nem com vocês (se é que alguém lê isso aqui depois que eu passei 23 anos sem postar).
A moral da história é que eu tenho uma caixa com um milhão de folhas de papel em branco e não sei o que fazer com elas. Com as pessoas também não. Ou talvez eu saiba, só que eu não quero esquecer.




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